No dia em que eu apontar uma arma ...
A Sic Comédia está a repor a sitcom "Family Ties/Quem Sai aos Seus", e num dos últimos episódios está bem patente a diferença entre os americanos e os europeus.
Os Keaton (pacifistas dos anos 60) são assaltados, e como a partir daí ficam com medo, decidem fazer uma reunião com a vizinhança para acabar por descobrir que uma das formas mais usuais que os vizinhos usam para se defender do medo e dos assaltantes é uma arma.
Ao princípio rejeitam, depois compreendem a necessidade e relutantemente compram uma.
Lidam com ela como se fosse uma doença e explicam aos filhos que apesar das suas convicções viram-se obrigados a mudar de ideias, "Nós não mudámos, o mundo é que mudou.".
Na noite a seguir, são acordados com um barulho. O pai desce de raquete de ténis na mão e depara-se com o filho mais velho que estava a dormir fora, mas que decide voltar para casa. O episódio termina com a habitual lição de moral da série, com o pai a dizer que não conseguiu pegar na arma, e a mãe a lembrar que ele há vinte anos tinha dito que "no dia em que eu apontar uma arma contra outro ser humano, é o dia em que eu admito a derrota da humanidade".
A diferença é que nós não achamos que seja qualquer derrota para a humanidade pegar numa arma, simplesmente nem sequer a iriamos comprar. E o mundo também mudou para nós. Pode-se argumentar que nós não podemos ter armas de defesa pessoal e os americanos podem. E por isso as querem. Mas eu tenho para mim que a questão é ao contrário, eles não as querem porque podem, eles podem porque as querem.