Controlar a morte
”Matar uma pessoa no seio materno é matar uma pessoa que não se pode defender. Uma menina de 5 anos sempre pode reagir, pode chorar, pode queixar-se e uma pessoa que é morta no seio materno não se defende. As minhas declarações têm essa explicação, era isso que eu queria dizer”, disse o padre Domingos Oliveira hoje, aos microfones da TSF.
”Há mortes que são mais graves e outras que são menos graves”, acrescentou, exemplificando com o caso de um atropelamento em que o condutor não tem culpa.
A primeira reacção é espanto. Depois pergunta-se: “Mas estaria sob o efeito de alguma coisa ?"
Convém no entanto não entrar em exageros. Vejamos, o padre tem razão quando diz que nem todas as mortes são iguais. Isto parece-me incontestável. Dou um exemplo. Torturar uma criança de 5 anos até à morte e depois atirá-la ao rio como se fosse um animal é mais grave que um aborto. Qualquer pessoa com um mínimo de humanidade estará de acordo.
Mas o que me interessou nesta história não foram as palavras infelizes do padre, que não passam disso, mas o que está por detrás das mesmas. A Igreja quer controlar a morte, quer ditar quais as mortes correctas e as incorrectas. Se uma criança de 5 anos sofre torturada até à morte é aceitável, porque faz parte dos desígnios de Deus. Foi Deus que a chamou para o pé de Si. E por isso é que ele acha que um aborto é mais condenável que um assassinato. Porque o aborto é obra do Homem e um criança no fundo do rio é obra de Deus. E como sabemos, Deus é infalível.
De resto, estou convencido que bem bebido o padre até diria que os 6 milhões de vítimas do Holocausto podiam defender-se e um “pessoa no seio materno” não.
”Há mortes que são mais graves e outras que são menos graves”, acrescentou, exemplificando com o caso de um atropelamento em que o condutor não tem culpa.
A primeira reacção é espanto. Depois pergunta-se: “Mas estaria sob o efeito de alguma coisa ?"
Convém no entanto não entrar em exageros. Vejamos, o padre tem razão quando diz que nem todas as mortes são iguais. Isto parece-me incontestável. Dou um exemplo. Torturar uma criança de 5 anos até à morte e depois atirá-la ao rio como se fosse um animal é mais grave que um aborto. Qualquer pessoa com um mínimo de humanidade estará de acordo.
Mas o que me interessou nesta história não foram as palavras infelizes do padre, que não passam disso, mas o que está por detrás das mesmas. A Igreja quer controlar a morte, quer ditar quais as mortes correctas e as incorrectas. Se uma criança de 5 anos sofre torturada até à morte é aceitável, porque faz parte dos desígnios de Deus. Foi Deus que a chamou para o pé de Si. E por isso é que ele acha que um aborto é mais condenável que um assassinato. Porque o aborto é obra do Homem e um criança no fundo do rio é obra de Deus. E como sabemos, Deus é infalível.
De resto, estou convencido que bem bebido o padre até diria que os 6 milhões de vítimas do Holocausto podiam defender-se e um “pessoa no seio materno” não.