Houve qualquer coisa que se perdeu aqui
Segundo garantiu António Cluny, do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, o sistema "não funciona sem o esforço suplementar dos magistrados que trabalham muito para além do horário normal". Sem esse empenhamento "habitual", assegura que "será o bloqueio total". Baptista Coelho não vai tão longe, considera esta medida "uma séria advertência ao Governo que andou a propalar que a morosidade da justiça era imputável às magistraturas".
Independentemente das razões da “luta” deles, nenhum país pode ter os seus juízes a fazer ameaças destas. Por isso, neste momento o ministro já falhou. Mesmo que consiga dar a volta à questão, nunca poderia permitir que chegasse a este ponto. Faltou diálogo ? O ex-ministro guterrista tem a palavra.
Mas os juízes não saem melhor deste filme. Estão a utilizar como arma o seu bem mais precioso, a autoridade. Como podem exigir para afirmá-la coisas tão prosaicas como toda a gente se levantar quando entram na sala, e depois esperarem que essa mesma autoridade não saia beliscada quando fazem ameaças do tipo : ‘Agora comigo é das 9h às 5 ‘ ? Quer eles queiram quer não, a próxima sentença sairá sempre com uma dúvida agrafada. Foi devidamente ponderada ou já estava fora da hora do patrão ?
Mas o pior comentário e o mais perigoso é este : “António Cluny chegou mesmo a dizer para não se preocuparem com as férias judiciais. "São só para o próximo ano e não sei se este Governo chega lá", ironizou. “. É este o Estado de Direito que ele vigilam ?
As condições de trabalho dos juízes são um espelho do país. Más. E a resposta deles às medidas do governo também.