Entertainers
Cavaco Silva sempre falou pouco. Sempre foi comedido. Mesmo quando era Primeiro-Ministro, media as palavras como até hoje nenhum político o fez. No pólo oposto teremos talvez Santana Lopes. Falava todos os dias e em horário nobre.
Há um efeito imediato desta opção. As suas palavras são analisadas à lupa, comparadas com anteriores declarações, guardadas na memória colectiva. As frases infelizes são glosadas eternamente e os momentos embaraçantes entram directamente para o anedotário nacional.
E ninguém esquece. E toda a gente se lembra :
- Porque é que agora não ataca ninguém, quando há 10 anos atacava Jorge Sampaio ?
- Quem era a moeda falsa ?
- Em 1995 disse que se ia afastar da vida política. Porque o regresso ?
- E o bolo-rei ?
- E os cinco minutos de jornais ?
- E como e porquê é que os ministros foram embora.
- E a imagem com Sá Carneiro de 1985 ? Hã ? Como é ?
Mas registe-se a diferença.
- Há menos de um ano, Soares disse que era uma “loucura” candidatar-se novamente. É confrontado, faz uma piada sobre a idade, e com duas de letra a coisa passa.
- Manuel Alegre disse quando se apresentou pela primeira vez, que se não houvesse mais ninguém para derrotar Cavaco, ele avançava. Passados dois meses já ninguém se lembra.
- Manuel Alegre que sempre fez parte do aparelho socialista e do qual esperava o apoio, vem dizer que se candidata pela independência dos partidos. E toda a gente faz de conta.
Há qualquer coisa na sociedade portuguesa que também tem que ser aprendida para não aceitarmos que uma piada feliz, desenrascada e oportuna é suficiente para justificar as opções políticas que se tomam.
Cavaco pode não saber responder às perguntas difíceis, mas a verdade é que ninguém sabe. O máximo que um político consegue é distrair a audiência. Cavaco não o consegue. Tudo bem. Também não o quero para entertainer.
(Publicado n’O Eleito)
Há um efeito imediato desta opção. As suas palavras são analisadas à lupa, comparadas com anteriores declarações, guardadas na memória colectiva. As frases infelizes são glosadas eternamente e os momentos embaraçantes entram directamente para o anedotário nacional.
E ninguém esquece. E toda a gente se lembra :
- Porque é que agora não ataca ninguém, quando há 10 anos atacava Jorge Sampaio ?
- Quem era a moeda falsa ?
- Em 1995 disse que se ia afastar da vida política. Porque o regresso ?
- E o bolo-rei ?
- E os cinco minutos de jornais ?
- E como e porquê é que os ministros foram embora.
- E a imagem com Sá Carneiro de 1985 ? Hã ? Como é ?
Mas registe-se a diferença.
- Há menos de um ano, Soares disse que era uma “loucura” candidatar-se novamente. É confrontado, faz uma piada sobre a idade, e com duas de letra a coisa passa.
- Manuel Alegre disse quando se apresentou pela primeira vez, que se não houvesse mais ninguém para derrotar Cavaco, ele avançava. Passados dois meses já ninguém se lembra.
- Manuel Alegre que sempre fez parte do aparelho socialista e do qual esperava o apoio, vem dizer que se candidata pela independência dos partidos. E toda a gente faz de conta.
Há qualquer coisa na sociedade portuguesa que também tem que ser aprendida para não aceitarmos que uma piada feliz, desenrascada e oportuna é suficiente para justificar as opções políticas que se tomam.
Cavaco pode não saber responder às perguntas difíceis, mas a verdade é que ninguém sabe. O máximo que um político consegue é distrair a audiência. Cavaco não o consegue. Tudo bem. Também não o quero para entertainer.
(Publicado n’O Eleito)