O Poder
Com a sua licença, D.Afonso Henriques, vou-me permitir discordar de si.
Se por um lado, estou completamente de acordo consigo quanto presume que tanto no caso de Mário Soares, como no de Jorge Sampaio, (já tenho algumas dúvidas em relação a Ramalho Eanes), se a constituição permitisse, certamente seriam candidatos a mais do que um mandato, e muito provavelmente seriam eleitos, já não concordo com as causas.
Até porque parece-me a mim que o seu argumento encerra uma contradição. Se os portugueses estivessem dispostos a eleger ad aeternum qualquer um dos presidentes eleitos até à data, isso quereria dizer que não estavam a jurar lealdade a qualquer um deles mas sim ao Poder que eles representam.
E o Poder em Portugal fascina e atemoriza. Somos de uma subserviência confrangedora perante o Poder. Seja representado na figura de um Rei, Presidente, Primeiro-Ministro, Juiz, e se formos para qualquer vila do país, até os médicos, porque poucos, logo com poder, são venerados. - “Vai ali o Sr.Doutor”.
A prova está nas primeiras candidaturas de Mário Soares e Jorge Sampaio. Como os soaristas não se cansam de lembrar, Mário Soares começou com 8%. A sua popularidade era mínima, mas passados três meses de ser eleito já era adorado. Porquê ? Porque era o Poder. Claro que a forma monárquica como presidiu à nação ajudou, mas o mesmo se passou com Jorge Sampaio. Eleito por contrapartida a Cavaco Silva, até à crise do Verão de 2004 era a figura mais respeitada em Portugal. Porquê ? Porque era o Poder.
E Cavaco Silva. Passados dez anos da sua travessia do deserto, voltou com níveis de popularidade (que me agradam), mas que são absurdos. E absurdos porque não tem outra explicação, a meu ver claro, que não seja a visão do Poder. E não me estou a esquecer do Poder do Primeiro-Ministro que é muitas vezes contestado. Mas o que é contestado é o exercício do poder, não o seu detentor.
Porque somos assim… não sei. Talvez seja da “não-inscrição” do professor José Gil. Talvez seja a velha história dos brandos costumes. Não sei.
De qualquer das maneiras, eu não tenho dúvidas que de uma forma geral, se amanhã fosse promovido um referendo e a monarquia triunfasse, que a adaptação dos portugueses ao novo regime seria mais rápida e menos custosa do que as alterações do Scolari na selecção. Sejamos realistas. A maioria dos portugueses nem perdeu dez minutos a pensar nisto nos últimos trinta anos. Manda quem pode ? Obedece quem deve.
(Publicado n’O Eleito)
Se por um lado, estou completamente de acordo consigo quanto presume que tanto no caso de Mário Soares, como no de Jorge Sampaio, (já tenho algumas dúvidas em relação a Ramalho Eanes), se a constituição permitisse, certamente seriam candidatos a mais do que um mandato, e muito provavelmente seriam eleitos, já não concordo com as causas.
Até porque parece-me a mim que o seu argumento encerra uma contradição. Se os portugueses estivessem dispostos a eleger ad aeternum qualquer um dos presidentes eleitos até à data, isso quereria dizer que não estavam a jurar lealdade a qualquer um deles mas sim ao Poder que eles representam.
E o Poder em Portugal fascina e atemoriza. Somos de uma subserviência confrangedora perante o Poder. Seja representado na figura de um Rei, Presidente, Primeiro-Ministro, Juiz, e se formos para qualquer vila do país, até os médicos, porque poucos, logo com poder, são venerados. - “Vai ali o Sr.Doutor”.
A prova está nas primeiras candidaturas de Mário Soares e Jorge Sampaio. Como os soaristas não se cansam de lembrar, Mário Soares começou com 8%. A sua popularidade era mínima, mas passados três meses de ser eleito já era adorado. Porquê ? Porque era o Poder. Claro que a forma monárquica como presidiu à nação ajudou, mas o mesmo se passou com Jorge Sampaio. Eleito por contrapartida a Cavaco Silva, até à crise do Verão de 2004 era a figura mais respeitada em Portugal. Porquê ? Porque era o Poder.
E Cavaco Silva. Passados dez anos da sua travessia do deserto, voltou com níveis de popularidade (que me agradam), mas que são absurdos. E absurdos porque não tem outra explicação, a meu ver claro, que não seja a visão do Poder. E não me estou a esquecer do Poder do Primeiro-Ministro que é muitas vezes contestado. Mas o que é contestado é o exercício do poder, não o seu detentor.
Porque somos assim… não sei. Talvez seja da “não-inscrição” do professor José Gil. Talvez seja a velha história dos brandos costumes. Não sei.
De qualquer das maneiras, eu não tenho dúvidas que de uma forma geral, se amanhã fosse promovido um referendo e a monarquia triunfasse, que a adaptação dos portugueses ao novo regime seria mais rápida e menos custosa do que as alterações do Scolari na selecção. Sejamos realistas. A maioria dos portugueses nem perdeu dez minutos a pensar nisto nos últimos trinta anos. Manda quem pode ? Obedece quem deve.
(Publicado n’O Eleito)
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