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A Fonte

O que há de errado comigo ? Eu não sei nada e continuo limpo.

I'm the ASSMAN !

31.7.04

Lembram-se ?



Chico Buarque

Mulheres de Atenas
Chico Buarque - Augusto Boal
1976

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seu maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Sofrem pros seus maridos, poder e força de Atenas
Quando eles embarcam, soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas
Obscenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas
Helenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas
Morenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas
Serenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas

Quem é que não fica curioso ?

28.7.04
 

Marketing

No Porto, na avenida de 5 de Outubro existe agora um viaduto, em que aparece escrito no sentido da Boavista : "Sampaio - Traidor" (mais a foice e o martelo).
Curiosamente, hoje passei no sentido contrário e lá estava também os mesmos dizeres (mais a foice e o martelo).
Parecia fotocópia.
É o chamado reaccionário com sentido de marketing.

Cidade de Chelsea

Acabo de ouvir na SIC um jornalista a perguntar ao Ricardo Carvalho se já tinha visitado a cidade de Chelsea.
 
Felizmente não decorei o seu nome.

Teoria da Conspiração

"O preço do barril de petróleo para Setembro ascendeu esta quarta-feira aos 43,04 dólares, no mercado nova-iorquino, atingindo o valor mais elevado desde 1983, ano em que começou a cotar este tipo de contrato.
Este aumento do preço deve-se à notícia avançada esta quarta-feira, de que a maior petrolífera russa, a Yukos, poderá encerrar nos próximos dias três das suas principais unidades de produção, devido a uma ordem judicial. ".

Será que há alguma relação entre o aumento do preço do petróleo e os trinta milhoes do Ricardo Carvalho ?


A espuma do Professor Marcelo

26.7.04
Ontem, ao ouvir o Professor Marcelo na sua crónica dominical da TVI sobre a "questão" do Primeiro Ministro se atrapanhar com a leitura do discurso de posse, lembrei-me de uns posts do José Pacheco Pereira no Abrupto acerca da escola do Professor Marcelo e que achei oportuno traze-los à tona.
 
Uma das palavras preferidas do Professor Marcelo é "substância", por contraponto à "forma".
A "forma" é importante mas da "substância" é que importa cuidar.
Sendo assim, qual é a substância do Primeiro Ministro se atrapalhar com o discurso ?. 
Ficou mal, pareceu mal, foi até embaraçoso, (lembram-se dos 3% do Guterres?), mas foi mais do que isso?
Vai ser pior PM por causa desta "barraca" ?
 
O Professor Marcelo tem que ser ouvido com os olhos.
Eu ainda me lembro do "Cristo descer à Terra".
 
 
Posts de José Pacheco Pereira
 
20.5.03
AS ESCOLAS DO JORNALISMO POLÍTICO EM PORTUGAL 1
 
Esta nota precede outra que estou a preparar sobre as escolas do jornalismo político português . Mas para quem vê e ouve Marcelo Rebelo de Sousa na TVI é fácil perceber que a sua conversa é estruturada como se fosse um jornal semanário , como se fosse o Expresso quando ele o dirigia . Trata da semana anterior , tem editorial , mais neutro , mais distanciado , proclamativo ; tem artigos de opinião , do próprio e do próprio com pseudónimo , contendo cenários e calendários cenarizados ( o elemento essencial da "análise" política de Marcelo ) ; tem notícias tratadas ao modo jornalístico , superficial , e com títulos e entradas opinativas - aqui nas matérias que não lhe interessam , não domina mas que tem que falar dado que se trata de um "semanário" , como tudo o que disse respeito à guerra do Iraque - ; tem a secção "Gente" , crucial neste tipo de jornalismo para incluir informações pessoais importantes e perfídia , que não podem ter corpo na parte séria ; tem roteiro , com os espectáculos inevitáveis , e com listas de livros ; tem cartas dos leitores . Um pouco por todo o lado há "encomendas" dos amigos do director , como é igualmente habitual nos semanários . De facto não é preciso uma multidão de jornalistas para fazer um jornal - Marcelo faz um todas as semanas sozinho e , quando se percebe a lógica , mais transparente porque é na primeira pessoa .
 
 
 
29.5.03
NOTAS SOBRE AS ESCOLAS DO JORNALISMO POLÍTICO 2
 
A Escola do Expresso
1. O Expresso encontrou-se depois do 25 de Abril na invejável situação de ser o único órgão de comunicação social moderno que vinha de antes da revolução e que passou relativamente incólume o PREC. Tinha por isso a vantagem de poder influir poderosamente no modo como se formava o jornalismo da democracia O seu pequeno envolvimento no PREC favoreceu a ultrapassagem da influência daquela a que chamarei a escola do jornal O Jornal, cujos herdeiros actuais são a Visão e, no plano cultural, o Jornal de Letras. Este grupo de pessoas mais velhas representava o núcleo de jornalistas-literatos que vinha da oposição e que trabalhara na Vida Mundial, no Século, no Diário de Lisboa, onde havia núcleos de jornalistas mais à esquerda, próximos do PCP e do MÊS.
2. A escola do Expresso é dominada por Marcelo Rebelo de Sousa que é o patrono de quase todo o jornalismo político português até à aparição do Independente. Marcelo deixou a sua marca em gerações de jornalistas e ainda hoje a sua "escola" é largamente dominante no comentário , e na formulação do noticiário político. Não existindo precedente para um jornalismo político democrático, porque a censura tornava-o impossível antes do 25 de Abril, Marcelo foi o primeiro a ocupar esse espaço e a criar um cânone para esse tipo de jornalismo.
3. A escola do jornalismo político de Marcelo, – que ele ilustrou na prática durante o tempo que dirigiu o Expresso, que influiu parcialmente no Semanário (onde Cunha Rego na última década da sua vida resistiu de algum modo a favor de um jornalismo mais substantivo), e ganhou uma dimensão audiovisual na TSF e mais tarde na TVI, sempre com suporte escrito na transcrição dos jornais –, consistia num tratamento ficcional da actividade política a partir de um autor-interpretador-classificador que é senhor da realidade e a molda. Os "cenários" e o seu corolário – o "facto político" como invenção ficcional – estão na base deste tipo de jornalismo político.
4. Os agentes políticos são apresentados como centrados na sua ambição e na sua carreira e julgados pela performance que mostram na gestão dessa carreira. Essa gestão é essencialmente entendida como gestão mediática, e gestão dos calendários, numa permanente procura da oportunidade ideal, e dá pouca atenção à substância política e ideológica da acção. Este tipo de julgamento da acção política pelo seu efeito mediático valoriza o papel do classificador-julgador, ele próprio. Daí que Marcelo tenha introduzido em Portugal vários mecanismos classificatórios – o "sobe e desce", as notas, etc. – de grande efeito comunicacional porque muito simples de entender e correspondendo a uma percepção judicativa por parte das audiências ou dos leitores de uma hierarquia da performance política. Esse tipo de obsessão classificativa foi transposta para determinado tipo de consultas de opinião como as que faz o Diário de Notícias .
5. O poder de classificar é um meio eficaz de deter influência política, bastante mais eficaz do que a qualidade das análises que suportam a classificação. As “maldades” que Marcelo é suposto fazer nos seus comentários derivam da impossibilidade de separar, neste tipo de jornalismo, o classificador do classificado, porque ambos se defrontam numa hierarquia ideal, com armas totalmente desiguais.
6. A análise por “cenários” é tão precária e frágil que raras vezes suporta uma verificação retrospectiva. Como este tipo de verificações não existem numa comunicação social com memória de quinze dias, o carácter ficcional, os processos de intenção, os inuendos passam despercebidos, ficando apenas o brilho verbal e imaginativo do discurso, o seu efeito espectacular. Este tipo de “cenarização” é particularmente frágil para defrontar fenómenos de conteúdo carismático – o efeito Cavaco ou Soares – que ultrapassam a dimensão gestionária e de oportunidade mediática das carreiras políticas que está na base da análise de Marcelo.
7. Quase todos os jornalistas de segunda linha que cobrem a actividade política são epígonos desta escola. Ela fornece-lhes um quadro interpretativo simples e um vocabulário judicativo que lhes transmite igualmente uma sensação de poder.Ela também é muito influente nos políticos de segunda linha que não sabem falar de política de outro modo . Não tem é a habilidade do mestre , nem a aparente distanciação do jornalista .

Para a minha amiga Marta

25.7.04
" But don't forget the songs
   That made you cry
   And the songs that saved your life "

Morrissey

Para a minha amiga Valéria


Campeão da Copa América

The greatest trick


Os Suspeitos do Custume 

" The greatest trick the Devil ever pulled was convincing the world he didn't exist. " 
Roger 'Verbal' Kint / Kevin Spacey

Em que é que ficamos ?

Mas afinal qual é o valor da vida?
 
A esquerda é a favor do aborto, mas é contra a pena de morte.
A direita é contra o aborto, mas a favor da pena de morte
 
Em que é que ficamos ?
 
O valor mais importante não é a vida.
É a qualidade de vida.

George Carlin

" You show me the people who control the money, the land, and the weapons, and I'll show you the people in charge. "

George Carlin

23.7.04

n'O Acidental

Ao Partido Socialista

22.7.04
"... And after a while, you can work on points for style.
     Like the club tie, and the firm handshake,
     A certain look in the eye and an easy smile.
    You have to be trusted by the people that you lie to,
    So that when they turn their backs on you,
     You'll get the chance to put the knife in. ... " 
 
Dogs
Pink Floyd

Ao Ministro do Mar

21.7.04
Mar Português

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
 
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma nao é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.                   
 
Fernando Pessoa, in Mensagem

Futebol

Um dia, Paulo Francis escreveu ...
 
(...)
 
O autor da melhor definição já escrita sobre futebol é um ilustríssimo desconhecido.
 
Seja lá quem for, merece ser entronizado quem resumiu em apenas doze palavras esta paixão tão avassaladoramente brasileira:
 
- Das coisas menos importantes da vida, o futebol é a mais importante...

(...)

BLOCO DE ESQUERDA ao poder !!

para ver se desaparece para sempre.

PORTUGAL PRECISA DE TI

Português :
 
Se tu és dos melhores profissionais que o país tem, vem para a função pública.
 
Já sabes que vais ganhar bastante menos, mas sabemos que isso para ti não é importante.
O importante é o serviço público.
O importante é o país.
 
As candidaturas estão abertas! Contamos contigo!
 
Aviso: A fim de se evitarem engarrafamentos à porta dos ministérios, pede-se a comparência logo pela manhã, a fim de ser feita a pré-inscrição.

Capital Inicial

20.7.04

FÁTIMA
(Flávio Lemos & Renato Russo)

Vocês esperam uma intervenção divina
Mas não sabem que o tempo agora está contra vocês
Vocês se perdem no meio de tanto medo
De não conseguir dinheiro pra comprar sem se vender
E vocês armam seus esquemas ilusórios
Continuam só fingindo que o mundo ninguém fez
Mas acontece que tudo tem começo
E se começa um dia acaba, eu tenho pena de vocês

E as ameaças de ataque nuclear
Bombas de nêutrons não foi Deus quem fez
Alguém,alguém um dia vai se vingar
Vocês são vermes, pensam que são reis
Não quero ser como vocês
Eu não preciso mais
Eu já sei o que eu tenho que saber
E agora tanto faz

Três crianças sem dinheiro e sem moral
Não ouviram a voz suave que era uma lágrima
E se esqueceram de avisar pra todo mundo
Ela talvez tivesse um nome e era Fátima
E de repente o vinho virou água
E a ferida não cicatrizou
E o limpo se sujou
E no terceiro dia ninguém ressuscitou


É pra rir ou pra chorar ?

19.7.04
O professor Marcelo disse ontem que o Eng.Guterres é um "candidato fortíssimo".
Mas está tudo maluco ou quê?
Já não há memória?
Então este homem quase arruína o país, despede-se para clarificar o "pântano político" em que nos meteu , e agora é um candidato fortíssimo ?
 
Só se estivermos a falar de kilogramas. E a comparar com o Cavaco.
Aí sim. Ele é muito mais cheiinho que o Cavaco, que é magrito.
 
Os socialistas não terem mais ninguém, é uma coisa.
Agora alguém dizer que é "fortíssimo" ....
 
A não ser que o Sr. Professor esteja a começar a minar o caminho ao Cavaco.
E ninguém melhor que o Sr. Professor sabe que dito na televisão que o céu e verde com bolinhas azuis, é porque o céu é verde com bolinhas azuis, porque senão não era dito que o céu é verde com bolinhas azuis.
 
Será ? 


Ao Herman José

"How come someone hasn't noticed
that I'm dead
and decided to bury me
God knows, I'm ready"

 
Morrissey
 
 

Que país é este ?

18.7.04
É o nosso.
Pobre país o nosso.
 
A crónica que se segue foi editada em livro em 1986, tendo sido inicialmente um artigo do "Expresso", pelo que podemos dizer que foi escrita à 20 anos.
 
E passados 20 anos, mudou alguma coisa ?
Agora que temos as bandeiras ao alto, (eu também), mudou alguma coisa ?
 
Como é possível que duas décadas depois a nossa "maneira de ser" continua a mesma ?
Quantas mais serão precisas ?
Alguém sabe?
 
 
CORRUPÇÃO
 
A CAUSA DAS COISAS
Miguel Esteves Cardoso
 
Assírio & Alvim
1986

A Anedota da semana não podia vir mais a jeito. A.NASA decide arranjar um astronauta europeu para ir a Marte. São seleccionados um inglês, um francês e um português. O primeiro a ser entrevistado é o inglês. Quando chega a altura de discutir a recompensa, o inglês pede nove milhões de dólares. O funcionário da NASA acha muito e quer saber porquê. O inglês explica que é casado, tem três filhos e que uma missão tão perigosa tem de ser devidamente paga. «Está bem, vamos ver”, diz o americano, mandando entrar o francês. O francês pede nove milhões de dólares. O entrevistador insiste em saber a razão de uma soma tão grande. O francês explica: «Está a ver - sou casado, tenho três filhos. Cinco milhões de dólares são para mim e para a minha família. E os outros quatro milhões de dólares são para dividir entre mim e as minhas duas amantes.»
Chega então a altura de entrar o português. Passa todos os testes e, mais uma vez o americano quer saber quanto é que o astronauta português quer cobrar. O português também pede nove milhões de dólares. Quando o americano lhe pede explicações, o nosso compatriota arregaça as mangas e avança com a resposta: «Ora bem... três milhões de dólares, para já, são para si, para o meu amigo me escolher a mim. E ficam seis. Três milhões de dólares são para mim. E os outros três milhões são para quem for a Marte, que se há-de arranjar alguém.»
Esta anedota ilustra perfeitamente a arte portuguesa de subornar. O suborno à portuguesa não é nada mefistofélico nem luciferino. É um esquema simpático entre amigos, em que «ganham todos». Não há chantagem nem culpa - é somente um contrato entre espertalhões, em que a única pessoa que se lixa é o terceiro, o desconhecido, ou o abstracto.Veja-se o caso flagrante dos exames de condução. O indivíduo que está tirar a carta entrega 15.000$00 ao seu instrutor. Este diz que dá o dinheiro ao examinador, mas é provável que fique com cinco contecos para ele, talvez para «compensar» ou «suavizar» a indignidade de ser um mero agente. Uma vez recebida a narta , o examinador não se limita a passar o candidato. Isso seria um suborno simples e logo pouco português. O que o examinador faz é facilitar o exame. Facilitar é, como se sabe, um dos desportos nacionais mais largamente praticados. O exame é então conduzido num clima de absoluta isenção de dificuldades. O examinador escolhe ruas interiores, sem trânsito, e vai dando instruções precisas ao candidato, tipo «Cuidado agora com esta passagem de peões. Abrande e olhe para os dois lados... meta uma terceira... isso... um cheirinho de travões... pois... sim senhor... é assim mesmo».
Se, por acaso, o candidato é tão inapto que nem assim consegue safar-se, o examinador não se sente constrangido a passá-lo, só pelo facto de ter recebido a «lembrança». Chumba-o sem pensar duas vezes «O meu amigo desculpe, mas isto não é a Feira Popular»). Devolve os quinze contos ao instrutor e diz que «fica para a próxima». É por isso que Portugal não é bem uma república das bananas. Numa república das bananas, entrega-se o dinheiro, recebe-se a carta, e está o negócio resolvido. Em Portugal é um pouco mais complicado. Faz-se sempre o exame, devidamente facilitado, e só se concede a carta de condução se o indivíduo preencher um mínimo de condições. Neste aspecto, Portugal é mais uma república de ananáses. O ananás sempre é um fruto mais luxuoso e mais complicado do que a banana.
Acontece, porém, que só uma terça parte dos examinadores está disposta a receber «luvas» (alguns acharão a percentagem pequena, mas sejamos optimistas). Os funcionários que recebem ficam ricos e são populares entre os instrutores, já que podem ser simpáticos, «gajos porreiros» e tudo o mais. Os colegas honestos, que contam apenas com o vencimento, sentem-se, com toda a razão, ressabiados. Vivem modestamente e ninguém gosta deles. A família chateia-o e chama-lhe parvo por não ser como os outros. É natural, por conseguinte, que compensem esta frustração com um excesso gigantesco de zelo. São de uma severidade debilitante e chumbam um candidato à mínima oportunidade. Ao primeiro arranhar de uma mudança, puxam do bloco, abanam o capacete, e mandam voltar às «boxes». «O melhor é o senhor habituar-se a andar de táxi.».
Chega-se assim a uma situação em que todos os exames são ou demasiado difíceis ou demasiado fáceis. O resultado final - a concessão de cartas de condução a indivíduos que saibam guiar - acaba por ser uma questão de sorte. No entanto, um condutor muito mau, mesmo que entre com a massa, nunca passa e um condutor muito bom, mesmo que «apanhe» um examinador «lixado», nunca chumba. Eis a diferença. Mas a grande maioria das pessoas que se apresenta a exame, não sendo nem muito boa nem muito má, está pura e simplesmente entregue ao destino. Portugal e uma república de ananáses porque existem, apesar de tudo, uns limites que não se encontram nas repúblicas somente de bananas, onde vale tudo. Ser muito bom ou muito mau em Portugal é igual a ser muito bom ou muito mau num país mais desenvolvido. O pior é quando se é outras coisas, como é mais frequente. Os mauzotes safam-se, os bonzitos lixam-se, os menos bons passam à frente dos menos maus e, embora raramente se chegue à bandalheira, anda-se tão perto dela quanto consente a lei da balda.
Quem se lixa com isto tudo, claro, é o Estado. Em Portugal, desde que seja o Estado a lixar-se, está tudo bem. No caso das cartas de condução, a quantidade de dinheiro necessário a fazer novo exame (à volta de sete contos) é apresentada como justificação destas injustiças todas. «Mais vale», nesta lógica, dar o dinheiro a um indivíduo concreto, com casa, família e preocupações, do que entregá-lo à «odiosa abstracção do Estado». Os portugueses são criaturas tragicamente concretas no que toca à transmissão de bens. Tanto mais que aqueles três indivíduos que participaram numa desonestidade (o instrutor, o examinador e o candidato) não só não se importam nada de estar a defraudar a república, como a culpam. E dizem com ar o mais inocente deste mundo: «Se não fossem tão gulosos e tão burocratas, isto não acontecia...»
O suborno à portuguesa é uma espécie de pequeno conluio contra o Estado, um acto concertado e pontual de desobediência civil. A corrupção em Portugal não é, salvo escandalosas excepções, um grandioso sistema de fraudes. É um somatório tremendo de incalculáveis pequenos golpes, praticados por pessoas diferentes em situações diferenciadas. É por isso que o nosso amigo Costa Braz tem tido tantas dificuldades. A corrupção entre nós nunca é «alta». Pelo contrário, é baixinha, atarracada, toda «por baixo da mesa e não se fala mais nisso». Se Costa Braz tivesse a ideia de prender os responsáveis, a única coisa que poderia fazer seria levantar uma cerca de arame farpado à volta de todo o território português. Todos os portugueses são culpados, porque todos nós participamos. Nada interessa que tenha sido «só daquela vez, para arranjar o apartamento», ou para conseguir a certidão mais depressa, ou para evitar chatices. Só não somos todos corruptos porque somos todos corruptinhos.

Por alguma razão quando se conta a anedota dos astronautas, a reacção mais habitual é julgar que «o português é que foi esperto». O mal de Portugal é esse. Somos todos demasiado espertos, o que não seria trágico, se o Estado não fosse tão estúpido. A burocracia convida os cidadãos a aldrabá-la, porque a alternativa à aldrabice é tão penosa, tão cara, tão morosa e tão chata. Quase se poderia dizer que a absoluta legalidade, entre nós, corrompe a alma. Depois, a burocracia é excessivamente artrítica para nos «apanhar» e, caso nos apanhe, para nos castigar. Com um Estado lento e estúpido e uma sociedade civil toda «pepe rápida» e espertalhaça, estão criadas as condições para o desenvolvimento livre e desenfreado do sistema português da aldrabice. É claro que ninguém quer, que ninguém gosta, mas também é verdade que, sendo assim, ninguém resiste.

A Fonte

17.7.04
Legião Urbana
(Renato Russo)

O que há de errado comigo ?
Não consigo encontrar abrigo
Meu país é campo inimigo
E você finge que vê mas não vê
 
Lave suas mãos que é a sua porta que irão bater
Mas antes você verá seus pequenos filhos trazendo novidades
 
Quantas crianças foram mortas desta vez ?
Não faça com os outros
O que você não quer que seja feito com você
Você finge que não vê e isso dá câncer
 
Não sei mais do que sou capaz.
Esperança, teus lençóis tem cheiro de doença
E veja que da fonte sou os quilômetros adiante
 
Celebro todo dia
Minha vida e meus amigos
Eu acredito em mim
E continuo limpo
 
Você acha que sabe  mas você não vê que a maldade é prejuízo
O que há de errado comigo ? Eu não sei nada e continuo limpo
 
Do lado do cipreste branco
À esquerda da entrada do inferno
Está a fonte do esquecimento
Vou mais além, não bebo desta água
Chego ao lago da memória
Que tem água pura e fresca
E digo aos guardiões da entrada:
- Sou filho da Terra e do Céu
 
Dai-me de beber que tenho uma sede sem fim
Olhe nos meus olhos, sou o homem-tocha
Me tira essa vergonha
Me liberta dessa culpa
Me arranca esse ódio
Me livra desse medo
 
Olhe nos meus olhos, sou o homem-tocha
E esta é uma canção de amor
E esta é uma canção de amor
E esta é uma canção de amor