A propósito de um excelente post do Miguel Góis no Gato Fedorento sobre a questão dos deficientes e a sua condição, lembrei-me das Para-Olimpíadas.
O que é isto do "Para"?
Porque é que não é as Olimpíadas dos Deficientes?
Não é isso que eles são? Ou é por mudarmos o nome da condição que mudamos a sua condição?
Eles não são pessoas "Para", são pessoas deficientes. Que não conseguem entrar na maior parte dos edifícios, que não têm um verdadeiro acesso ao mundo do trabalho, que não têm uma verdadeira ajuda do Estado nem da sociedade.
É óbvio que não podiam competir com os não-deficientes, e é verdadeiramente heróica a sua simples presença na competição pois demonstra uma força de vontade que poucos têm, mas nem por isso deixa de ser lamentável a nossa atitude.
Como não fazemos nada, ou quase nada para melhorar verdadeiramente a sua qualidade de vida, o que é que fazemos? Mandamo-los para uns Jogos Olímpicos para se entreterem. Como se fosse um campo de férias para brincar. - "Aí ganhaste uma medalinha? Que bom, tás a ver. Por isso vê se te portas bem que nós gostamos muito de ti".
A prova disto é que Portugal, que bebe cada medalha dos Jogos Olímpicos como se estivesse no deserto, ignora quase por completo a quantidade enorme que os nossos "Paras" ganham. Porventura as "Para-Medalhas" não são de ouro como as outras? Não foram ganhas dentro do mesmo nível de competição?
Como diz e muito bem o Miguel Góis, eles só querem ser tratados como toda a gente. E assim sendo, quero ver a RTP a dar o mesmo tempo de antena, quero ver o Presidente da Répública a condecorá-los, quero ver pavilhões a receber o seu nome, quero ver homenagens, festas e fogo de artíficio.
Se são os meus olhos, eu escolho a areia.