Interessante...
Chega-me às mãos um panfleto do Bloco de Esquerda. Diga-se de passagem que o dito me foi entregue por uma jovem esquerdista que destrói sem qualquer piedade católica ou comiseração progressista o mito de que por aqueles lados a riqueza estética se encontra mais equitativamente distribuída. Na realidade, a dita jovem só provocaria um crescimento sustentado no ramo executivo de um macho explorado pelo capitalismo, se porventura, fosse geneticamente modificada. E como é sabido, o BE não é favorável a essas imposições totalitárias do grande capital.
Voltando ao assunto: recebo um panfleto do BE. Intitula-se "10 prioridades para uma viragem no país". E nele podemos encontrar as "10 prioridades para os primeiros 100 dias". Trata-se portanto do programa do que o dr. Soares, embora "não concordando com tudo" (obviamente), achou "interessante" (mais óbvio ainda). Tenho de admitir que concordo com o dr. Soares. De facto, é "interessante". Veja-se por exemplo, a medida nº2: "Aborto: fim da perseguição das mulheres". É, de facto, "interessante". A típica demagogia do BE, sempre do alto da sua suposta superioridade moral. Gosto também particularmente de algo que não está incluido nas tais 10 medidas. Não é por isso que o seu valor é menor. Veja-se bem: "Uma nova Constituição para uma Europa Solidária". O BE sem adjectivação não existe. Tudo tem de ser adjectivado. Desde que, obviamente, o adjectivo não seja a palavra "mau". Como sabemos, o "Mal" é, como a "Culpa", uma invenção judaico-cristã, e cuja utilização, a bem da libertação do "inner-self" dos cidadãos, e do apaziguamento das boas consciências, deve ser expurgada da linguagem corrente. "Solidário" já não tem esse problema. não só não deve ser banido, como deve ser obrigatório. "Solidariedade compulsiva", ora aí está o caminho do futuro. E sempre se têm a Coreia do Norte como exemplo. "Solidário" é um adjectivo progressista. E se algo é "solidário", é bom, independentemente da forma que possua. Basta-lhe ser solidário. Veja-se o próprio BE. Alguns dos seus membros seguiam, até há uns anos, a Albânia como modelo. Hoje continuam a seguir, mas já não têm coragem para o dizer. No entanto, são "solidários", que é coisa que ninguém que defenda "esse Bush" pode ser. Preocupam-se com as desigualdades. Não importa se melhoram ou pioram: o que interessa é nivelar. Normalmente, por baixo. é o preço a pagar (compulsivamente) pela "solidariedade".
No entanto, a minha preferida é a seguinte afirmação: "àgua e energia não são negócios". Perfeito. O velho preconceito do BE contra o negócio e o dinheiro, esse agente corruptor da natural bondade humana. E sempre se consegue ser "solidário", porque como é sabido, o negócio é contra os pobres (explora-os, ao contrário do que se passa na Coreia do Norte, onde a liberdade é tanta,que nem lhe dão atenção), e como o BE é contra o negócio, é o defensor dos pobres. Os outros são exploradores. O BE é "solidário".
Pena é que a "solidariedade" contida nas medidas propostas pelo BE tenha, caso estas sejam implementadas, uma única consequência: um agravamento do estado da economia, que colocará em pior condição precisamente aqueles que são alvo da "solidariedade" do BE. Com a benção (passe a terminologia judaico-cristã) do dr. Soares. Interessante...